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Foto do escritorMari Amaral

Ir ao estádio: quem pode?

Devido aos eventos mais recentes na Arena MRV, surgiu um debate sobre a questão do comportamento de torcidas e quem são as pessoas que estão indo assistir jogos ao vivo.


A construção de arenas, aumentos estratosféricos nos preços de ingressos e itens de times, clubes tendo "donos" milionários que agem com descaso e falta de segurança. Esses são alguns dos problemas que os torcedores enfrentam no dia a dia. A pergunta é: isso beneficia quem? Ou melhor, prejudica quem?


Para falar sobre esse tema, vou começar discorrendo sobre a minha relação com o futebol e meu lado como torcedora apaixonada do Clube Atlético Mineiro.

 

Quando era criança e comecei a me interessar por futebol, sempre deixaram claro para mim uma coisa: "Estádios são perigosos em dia de clássico. Melhor assistir um jogo menos disputado." Entendia essa restrição, fazia total sentido com as notícias que apareciam sobre as torcidas antes e depois de partidas entre Galo e Cruzeiro, ou até mesmo contra o Flamengo.


Meu primeiro jogo no estádio foi Galo x Caldense, na fase de grupos do campeonato mineiro. Tudo foi muito calculado: jogo sem rivalidade, um campeonato de "menos relevância" e uma fase não decisiva da competição. Tudo para evitar confusões.


Depois, fui em alguns Galo x América em fase de grupos de campeonato mineiros, que é um clássico mais "amigável" de assistir. Matou minha vontade enorme de ver jogos disputados, mas acabou me tirando minha sorte de sempre ver o galo ganhando também. Infelizmente, não se ganha tudo.


Consegui ainda assistir um Galo x Internacional e com isso mais uma conquista: era um jogo do Brasileirão! Minha prima cedeu os ingressos para eu assistir com o meu irmão no Mineirão, também foi meu primeiro jogo sem meus pais. Foi divertido, apesar de que levei cervejada no gol, o que faz parte também!


Como deu para perceber, a medida que eu crecia, mais competitivos os jogos ficavam. Mas ainda hoje, com 19 anos, nunca assisti um jogo contra o Cruzeiro e Flamengo, nem uma Libertadores ou Copa do Brasil. Ainda não é 100% seguro e vou ter que concordar com os meus pais, cresceu um medo (maior) em mim depois das notícias de ontem. Sempre quis ver um clássico e competições maiores, ainda fico triste por não poder ir, mas hoje entendo.


Todos os jogos de futebol masculino que assisti foram no Independência ou no Mineirão. Ainda não consegui ir na Arena MRV e vou citar os motivos a seguir.



O homem torcedor de futebol sempre teve algum tipo de preconceito enraizado ( é uma coisa de sociedade também, mas aqui é de uma forma diferente). Os cantos para provocar adversários ainda hoje tem tons machistas e homofóbicos, o que deveria ser extinto, para começo de conversa. Crimes são crimes e esses preconceitos são. O que acontece é que acabam deixando isso passar impune, contribuindo para crescer essa mentalidade dentro daqueles que acompanham o esporte e reproduzir até sem perceber. Não deveria ser normal chamar cruzeirense de Maria. É só pensar bem no que quer dizer provocar dessa forma, acha mesmo de bom tom? Por que é considerado ofensa?


Racismo é outra grande luta do futebol, Vinícius Júnior é um grande jogador que diaramente lida com isso jogando pelo Real Madrid na Espanha. Todo jogo ele sofre algum tipo de preconceito dentro de campo ou fora por torcedores adversários. O psicológico de jogadores é afetado com isso e a maioria desses criminosos saem sem punições e sem serem identificados, o que imagino que gera um cansaço e uma decepção para quem tem o sonho de jogar futebol, ver que nada muda.


Isso faz com que os estádios não sejam seguros. Mulheres, crianças, pessoas lgbtqia e pessoas pretas se sentem cada vez mais inseguros de exercerem seu direito como torcedores, assistindo seu time do coração. As agressões são feitas de diversos tipos: assédio verbal e físico, brigas e xingamentos até dentro da internet.


A verdade é que o ambiente do futebol masculino sufoca minorias desde sempre e está pior hoje em dia, já que está ficando cada vez mais elitizado. Não adianta negar, o fato de notícias ruins pós jogo crescerem cada vez mais está diretamente ligado a isso. O público que vai ao estádio é, em sua maioria, homens, cis, ricos e brancos. Pessoas que vão á uma partida por status e mostrar que podem estar no ambiente que querem. Usufruem de "Estou pagando muito dinheiro para estar aqui, logo posso fazer o que quero."


Ao invés de levantar o time cantando, como durante o rebaixamento de 2005, a torcida ataca e causam danos graves tanto nos jogadores quanto em outros torcedores. Provocações não são saudáveis mais, são preconceitos "disfarçados". Para desestabilizar o adversário fazem coisas ilegais: jogam copos, bombas e colocam laser na cara de goleiro. Mesmo sendo uma final de campeonato, que perdemos e fomos vice-campeões, eles agem como animais selvagens.


Vegonhoso o jeito que estão agindo e repudio essas ações. É como disse no meu twitter, o galo é da massa e é por isso que amo esse time, é coisa de geração, por favor não tirem a essência do meu clube. O time é do povo, mas a massa atleticana apaixonada é a que está sendo impedida de assistir jogos no estádio.


Podemos e devemos cobrar punições para esses torcedores criminosos, para que abaixem preços de ingressos e artigos esportivos, melhorias em questões de segurança e estrutura na Arena. Isso vai fazer com que nós voltemos aos estádios e a ocupar espaços que já havíamos conquistado antes.


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